O objetivo chinês de longo prazo, proclamado por suas lideranças politicas, é a construção de uma sociedade socialista desenvolvida.
Marx, ao analisar o modo de produção capitalista e a forma como a natureza e a sociedade se desenvolvem e se transformam, apontava que a sociedade capitalista seria substituída pelo socialismo, período de transição para a futura sociedade comunista.
Acreditava que a revolução socialista ocorreria, em primeiro lugar, nos países capitalistas mais desenvolvidos, como a Inglaterra e a Alemanha, por exemplo.
Marx não viveu o período ulterior de constituição do imperialismo, assunto tratado por Lenin.
Este último constatou a possibilidade de os operários e seus aliados tomarem o poder em países mais atrasados no sistema capitalista mundial, nos chamados elos mais fracos da corrente imperialista.
Numa situação muito especial e irrepitivel, liderou a revolução na Rússia que vivia uma profunda crise multilateral e uma população cansada pela guerra.
Após a tomada do poder e depois do fim da primeira guerra, enfrentou uma longa guerra civil contra o exército branco, apoiado pelas potências ocidentais.
Vencida esta etapa da revolução, Lenin adota uma nova política econômica que buscava desenvolver as forças produtivas apoiando-se inclusive na produção eno comércio capitalistas.
Esta experiência não foi muito adiante e, após a morte de Lenin, passou-se a adotar um processo de socialização mais rápido e mais intenso da produção, tanto nas cidades como no campo.
Os chineses, a partir da sua própria experiência e da análise dos processos de desenvolvimento das forças produtivas de vários países, o Brasil da era Vargas entre estes, e inclusive da experiência soviética, passam a adotar um modelo peculiar de desenvolvimento baseado no planejamento e controle estatais e realizando parcerias com o capital privado nacional e estrangeiro, tendo em vista o crescimento exponencial de suas forças produtivas e a assimilação do que havia de mais moderno na ciência e tecnologia mundiais.
Integrou-se no mercado mundial e aproveitou todas as oportunidades que estavam ao seu alcance, sem jamais vender sua soberania, mantendo o controle estatal sobre áreas fundamentais como o sistema financeiro e o comércio exterior, entre outros.
Jamais escondeu seu objetivo de se transformar numa sociedade socialista medianamente desenvolvida em meados de século XXI, tampouco enxovalhou seus líderes anteriores que contribuíram para a construção da nova China, mesmo tendo cometido erros no processo revolucionário.
Sua política externa, em todos os aspectos, sempre respeitou os seus parceiros, buscando acordos comerciais em que ambos ganhem nesta relação, sem jamais tentar impor seu modelo politico ou econômico aos demais países.
Sempre defendeu a paz e a resolução dos conflitos pela via diplomática.
Em relação à reintegração de territórios que estiveram sob controle de outros países buscou uma solução pacífica e paciente, implementando uma política de um país e dois regimes, como em Hong-Kong, que voltou a compor a China no final do século passado.
Depois de 45 anos de implementação desta política a China já ultrapassou o PIB americano quando comparado pela paridade do poder de compra há alguns anos, devendo superar o rival em termos de PIB nominal na próxima década.
Muitas outras questões precisam ser conhecidas e discutidas sobre a experiência chinesa sem preconceitos e com a mente aberta.
A obra dos professores Elias Jabbour e Alberto Gabriele, “China: O Socialismo do Século XXI“, traz luzes a este debate.
Luís Carlos Paes de Castro é engenheiro, Especialista aposentado do Banco Central e presidente do PCdoB no Ceará.